Xadrez e matemática
Por Antonio Carlos de Resende
Apresentação:
Nestes 25 anos de trabalho na educação tenho lido muitos artigos teóricos sobre os benefícios da prática do xadrez. Acompanho com interesse os projetos implantados em escolas, clubes e cidades. Artigos científicos e palestras sobre o tema sempre me chamaram a atenção.
Para tal, o objetivo desta pesquisa passou da curiosidade, resvalou pelo desafio até se tornar uma necessidade de obter um dado concreto e palpável para a atividade profissional.
A idéia foi simples: comparar o desempenho dos alunos da equipe Sabin de Xadrez com a média dos alunos da série onde eles estudam.
Os 13 alunos listados abaixo praticam o xadrez com regularidade desde a 1ª série, onde é matéria curricular até a 4ª série e extracurricular a partir daí.
Todos eles já participaram de diversos torneios escolares, estaduais, nacionais e alguns deles têm até experiência internacional.
Vejam os resultados observados no ano de 2004
Aluno(a) série M.A M.G.S. D.R.M.T. T.A.S.
Amanda Marques Pereira 4ª 9,33 7,70 +1,63 154
Lucas Tamaki Otani 4ª 9,33 7,70 +1,63 154
Igor dos Santos Silva 5ª 9,66 7,30 +2,36 168
Melissa Araújo 5ª 9,66 7,30 +2,36 168
Helena Resende 6ª 9,66 7,00 +2,66 191
Felipe Alvarenga Massarioli 6ª 7,66 7,00 +0,66 191
Filipe Andrade dos Santos 6ª 9,50 7,00 +2,50 191
Gabriel Ferri Bichir 6ª 10,0 7,00 +3,00 191
Leandro Jukemura 6ª 9,16 7,00 +2,16 191
Luísa Madeira Cardoso 7ª 9,50 6,70 +2,80 170
Rodrigo Jukemura 8ª 8,00 7,10 +0,90 157
Juliê R. Sartoretto 1ª E.M. 8,50 6,62 +1,88 140
Jihana Nassif 1ª E.M. 9,00 6,62 +2,38 140
M.A.: Média anual
M.G.S.: Média geral da série
D.R.M.T.: Desempenho com relação à média
T.A.S.: Total de alunos por série
E.M.: Ensino médio
É importante acrescentar que os alunos de 4ª série do Ensino Fundamental à 1ª série do Ensino Médio enfrentaram em 2004 de 15 a 18 instrumentos de avaliação na disciplina de Matemática do Colégio Albert Sabin.
Há alunos que não praticam xadrez com resultados como os do quadro acima? Sim, porém todos os enxadristas apresentaram desempenho superior à média. E é aí que mostramos que o xadrez funciona como ferramenta pedagógica de notável valor nas escolas. É um facilitador da aprendizagem quando exercita o raciocínio, a imaginação, a criatividade, a atenção e a concentração dos alunos.
Projeto: trabalhando a matemática através da prática do xadrez
Conteúdos:
- Contagem e comparação de quantidades:
Através dos valores das peças de xadrez o aluno estabelecerá a relação de lucro e prejuízo, no momento das trocas.
Por exemplo: o aluno troca uma dama (9 pontos) por uma torre (5 pontos). Nesta relação ele saberá quem ganhou ou quem perdeu com aquele movimento. Sistema monetário: lucro e prejuízo.
- As quatro operações:
Adição: quando há ganho de material através das trocas.
Subtração: quando há perda de material através das trocas.
Multiplicação: quando uma peça aumenta o poder de outra, como por exemplo: dobrar as torres numa coluna aberta.
Divisão: quando as peças estão mal posicionadas ocorre a divisão de forças no tabuleiro.
- Figuras e movimentação geométricas das peças.
- Coordenadas algébricas sobre um plano cartesiano. Localização espacial em um plano.
- Noção do tempo através do cálculo de lances.
- Conceito do domínio espacial em uma determinada posição. Onde, quem tem mais espaço possui mais possibilidades de lances.
- Simplificação:
Teoria da simplificação de Capablanca: "quando você esta ganhando material troque peças para simplificar a posição."
Além dessas relações de conteúdos com a prática do xadrez podemos destacar a importância e o desenvolvimento da atenção para se efetuar uma jogada. A visão do detalhe perante um todo. A imaginação e a antevisão do lance adversário. Todos são fatores importantes do raciocínio lógico aplicados à matemática, assim como no xadrez.
Sobre o autor: Antonio Carlos de Resende é mestre da Federação Internacional de Xadrez, professor de xadrez do Colégio Albert Sabin e técnico da prefeitura de Osasco.
Fonte: texto enviado pelo MF Antonio Carlos de Resende
